Nos últimos tempos, um pouco por toda a "blogosfera", tem sido algo difícil esquivarmo-nos das várias referências às declarações polémicas de Saramago, sobre a "união" dos dois países que componhem a Peninsúla Ibérica.
Não tendo, propriamente, qualquer tipo de pretensão em ter algo a acrescentar a esta temática e a tudo aquilo que já foi dito sobre os delírios utópicos do referido senhor; achei que me deveria pronunciar, igualmente, sobre o assunto em questão.
Convém esclarecer, antes de mais, que não nutro particular apreço por Saramago, enquanto pessoa. Dado que sempre me pareceu que o próprio manifestava simpatias políticas por determinados regimes algo questionáveis de um ponto de vista ético, e que as proporções titânicas do seu mal disfarçado ego, ultrapassavam, em muito, o seu real valor enquanto escritor.
Não quero com isto dizer, que estas circunstâncias tenham alguma influência na minha posição em relação às suas declarações!
Parece-me apenas, que alguém que foi alvo de tantas honrarias e distinções de pendor intelectual, deveria manifestar algum pudor e temperança, aquando das mesmas.
Não sendo, propriamente, uma caracterísitca de uma elite iluminada, o bom senso é uma qualidade indispensável a uma boa interacção social, e a sua falta é absolutamente imperdoável, em alguém com a exposição e o ascendente intelectual (merecido ou não) de José Saramago!
Posto isto, o facto de alguém estar disposto a vender a sua identidade cultural e direito à soberania, a troco de compensações económicas dúbias e de uma certa desresponsabilizção pelas rédeas do seu destino e dos seus semelhantes, é indigno de viver na civitas (não admira que te tenhas baldado para um cú de judas tão remoto, ó Zé).
Uma união pressupõe uma colaboração.
Um esforço comum para atingir um objectivo benéfico a ambas as partes, mantendo as mesmas uma plataforma de respeito pela dignidade e direito à auto-determinação da outra. Não é relativa a uma apropriação (mais ou menos) velada, com vista a satisfazer os caprichos colonialistas de certos corsários.
O facto de ter uma destacada figura da "comunidade pensadora" nacional (sim, porque Saramago é português, ainda que prefira não ser lembrado do facto) a renegar de forma tão categórica a sua identidade, é para mim uma bofetada sem luva!
Uma profunda humilhação, que tem o potencial para fazer mais pela deterioração da nossa auto-imagem enquanto povo e cultura, do que qualquer estatística da UE, ou desaire futebolísitco da selecção...
Cada vez tenho mais motivos para dar razão a Vasco Pulido Valente, quando este põe em questão a qualidade da consciência crítica e política, do nosso (?) Nobel da Literatura...
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