sábado, 30 de junho de 2007
Cinema Maldito
Nunca houve, provavelmente, outra forma de arte com o poder de infuenciar as massas de uma forma tão determinante, como o cinema.
Poder-se-ia apontar como razões para tal, o facto de ser, de todas as artes, a única que beneficia de uma verdadeira e sofisticada indústria na sua produção e distribuição (algo que remonta aos primórdios do star system de Thalberg e da sua estrutura integrada); ou por razões que se prendem com a facilidade da linguagem cinematográfica em si, estruturalmente simples (com óbvias excepções) em comparação com as artes plásticas, a música contemporânea, ou até mesmo com grande parte da literatura.
No século passado, vários cineastas, cientes deste facto, não hesitaram em aproveitar esta qualidade "formadora" de consciências e sentimentos, ao serviço de fins mais próximos da propaganda política, do que de quaisquer compromissos estéticos ou artísticos.
Vertov, Eisenstein e Riefenstahl são alguns destes exemplos. Realizadores profundamente comprometidos com os seus regimes (Vertov e Eisenstein com o comunismo na Rússia, Riefenstahl com o nazismo na Alemanha), que preteriam qualquer noção de arte pela arte, em prol das qualidades intrínsecas do cinema enquanto ferramenta de influência política e ideológica.
Por outro lado houve, igualmente, ao longo da (ainda) curta história desta arte, cineastas que se aproveitaram da proximidade do cinema com o público, para deliberadamente criarem uma cisão com o "bom gosto" vigente e confrontar o espectador com interrogações existenciais profundas, ou simplesmente chocar o seu sistema de valores.
Poderiamos nesta categoria nomear cineastas como Buñuel (Un Chien Andalou , L´Âge d´Or, Viridiana), Kubrick (A Clockwork Orange), Pasolini (Teorema, Salò o le 120 giornate di Sodoma) Oshima (In The Realm Of Senses), Cronenberg (Crash, The Brood, Videodrome) ou ainda mais recentemente Takashi Miike com os ultra-violentos Ichi The Killer, Audition ou Imprint.
Deste último lote de cineastas e filmes, poderiamos dizer que partilham de uma certa aura de "maldição" e fascínio que transcende, muitas vezes, o próprio espaço físico da sala de cinema, criando verdadeiras lendas em torno de si.
Pois é precisamente deste tipo de fitas, entre outras, que trata o ciclo "filmes infames", a decorrer durante o mês de Julho na Cinemateca. Obras, que, por uma ou outra razão, criaram uma profunda controvérsia - em muitos casos ainda bem viva, décadas depois - que contribuiram para destruir a carreira dos seus autores, ou em outros casos, para projectar e consolidar a mesma.
Poderemos ver, neste ciclo, os seguintes filmes:
Je Vous Salue Marie - De Jean Luc Godard, 1984
Triumph Des Willens - De Leni Riefenstahl, 1934
The Outlaw - De Howard Huges e Howard Hawkes, 1934
At Long Last Love - De Peter Bogdanovich, 1975
Peeping Tom - De Michael Powell, 1960
Branca De Neve - De João César Monteiro, 2000
The Birth Of A Nation - De D.W. Griffith, 1915
Viridiana - De Luís Buñuel, 1961
Jud Suss - De Veit Harlan, 1940
Extase - De Gustav Machaty, 1932
Salò O Le 120 Giornate Di Sodoma - De Pier Paolo Pasolini, 1975
Un Chien Andalou - De Luís Buñuel e Salvador Dali, 1929
Zéro De Conduite - De Jean Vigo, 1933
Un Chant D´Amour - De Jean Genet, 1950
Pink Narcissus - De Jim Bidgood, 1971
White Dog - De Samuel Fuller, 1982
Mais informações no site da Cinemateca Portuguesa
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